"Sou orgulhoso de ser um homem autista gay!" (Parte 1)

Por Derek Warren

Tornei-me ciente do tema conhecido como neurodiversidade. Esta crença particular é muito controversa na comunidade autística. O termo "neurodiversidade" é a crença de que uma desordem no sistema nervoso deve ser referida como uma diferença humana normal. De forma simplificada, [os defensores dessa ideia] são pessoas que se opõem fortemente à busca de uma cura. Eu não compreendo perfeitamente o que neurodiversidade é, e, portanto, não sei o que isso significa para mim. Com isso em mente, a minha postagem recente no blogue foi provavelmente a mais difícil de escrever. Foi a postagem do blogue onde eu revelei que eu sei que sou um homem gay. Esta vai ser igualmente desafiadora. Agora quero compartilhar uma postagem no fórum do Wrongplanet.net [1]. Eu fiz uma pergunta aos usuários do fórum LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros) que pode parecer simples para aqueles que estão na comunidade neurotípica.

Você pode honestamente e verdadeiramente me dizer "Eu tenho orgulho de ser um autista LGBT? Porque, ou por que não?”.

No início, eu pensei que todo mundo ia dizer "Dãã! Que tipo de pergunta estúpida é essa? Claro que eu amo quem eu sou. Eu nasci assim!" Depois que algumas pessoas começaram a comentar, minhas previsões mudaram rapidamente. Algumas [dessas pessoas] expressaram a crença de que eles não sentem vergonha nenhuma em seu autismo ou na sua sexualidade. Eles abraçaram o fato de que eles são diferentes do resto da sociedade, e eles parecem ter confiança suficiente para enfrentar as pessoas que tentam ataca-los com a Bíblia e convencê-los a "mudar" quem eles são. Há outros que não se sentem envergonhados, mas que tampouco suas qualidades são motivo de orgulho. Surpreendentemente, minha opinião foi diferente de todos os que responderam a pergunta até agora.

A partir de agora, a minha posição sobre essa questão complicada é meio a meio. Tenho certeza de que você pode dizer que eu senti uma enorme sensação de alívio quando finalmente eu revelei que sei que eu sou um homem gay. Digo isso principalmente porque moro em uma cidade da Pensilvânia de maioria conservadora. Cheguei à conclusão imediata que as pessoas que usam um texto religioso como um método para "mudar" os meus sentimentos e os meus desejos não são amigos de verdade. Apesar do que o adolescente de catorze anos Caiden Cowger [2] diz, eu sei que sempre fui atraído pelo corpo masculino. Comecei a perceber isso no meu junior e senior [3] no Ensino Médio (pt-PT: Ensino Secundário), mas eu sabia que eu não estava preparado para revelar minha atração ao mundo. Cá está uma citação da minha postagem anterior sobre o meu ex-terapeuta e por que eu não confiava nele.

Seu tom de voz era frequentemente muito questionável, isto é, eu tinha dificuldade para descobrir se ele estava a ser verdadeiro ou sarcástico. Eu não era "como todo mundo" e eu não tinha interesse na maioria das atividades neurotípicas, em particular, namoro. Eu queria "ser como todo mundo", mas não sabia como. Cada sessão [era] limitada e consistia nele tentando causar uma epifania mágica. Ele queria que eu "me expusesse".  Ele iria continuar e continuar a me dizer sobre como eu deveria interessar-me por meninas e [num momento] disse sarcasticamente "a menos que você gosta de meninos ou algo assim..." Esse foi um dos muitos comentários que causou um grande choque de personalidade entre nós dois. Eu não sabia que eu era gay na época, então eu apenas recusei-me a responder a ele. Se eu soubesse, mesmo assim não teria "me assumido" para ele.

Pode parecer chocante para alguns de vocês quando eu digo que não tenho "orgulho de ser autista". Honestamente não entendo o motivo de dizer isso, mas acho que pode ter algo a ver com o fato de que eu sou um homem gay que recentemente saiu do armário. Tenho apenas vinte anos, e há pouco mais de um ano formei-me no Ensino Médio. É um fato conhecido que os sintomas de depressão e a ansiedade social são características comuns em pessoas com Transtornos do Espectro Autista, e isso é verdade, independentemente ou não, elas na verdade são diagnosticadas com as duas condições. Agora que eu me identifico como um homem que passa a ser gay e que também está diagnosticado com um Transtorno do Espectro Autista, tenho que estar preparado para as muitas pancadas que encontrarei no caminho. 

Se você é um pai ou uma mãe de um adolescente ou jovem autista LGBT, devo ser honesto e dizer que eu não tenho muitas respostas às suas perguntas. Digo isso porque eu sou novo para [saber] sobre essas coisas de gay. No entanto, tenho certeza que você sabe que um filho asperger/autista sempre experimentará dificuldades com a socialização. Isso pode ter o potencial de fazer-me um alvo vulnerável a atos de ódio e violência. A trágica morte de Matthew Shepard foi um lembrete desagradável de que há pessoas doentes e cheias de ódio. Isso aconteceu em sete de outubro de 1998. Dois homens chamados Aaron McKinney e Russell Henderson levaram Matthew a uma área remota, a leste de Laramie, uma cidade no sudeste do Wyoming. Dois homens com uma pistola o torturaram várias vezes e ele ficou exposto ao frio por dezoito horas. Ele deu seu último suspiro após a meia-noite de doze de outubro de 1998.

Matthew foi levado a acreditar que Aaron e Russell eram gays. Depois de encontrá-los num bar, Aaron concordou em dar a Matthew uma carona para casa. Assim que o levaram a uma área remota fora da cidade, Aaron disse "Adivinhe? Não somos gays e você acabou de ser roubado". Foi quando ele [Aaron] começou a bater em Matthew. O aspecto mais doloroso de ser diagnosticado com síndrome de Asperger é que eu tenho que fazer tudo que estiver ao meu alcance para impedir que minha ingenuidade social ultrapasse a minha vida. O assassinato de Matthew Shepard foi um exemplo violento de assédio moral que eu experimentei no Ensino Médio. Como os meus visitantes regulares sabem, valentões tentaram convencer-me a acreditar que estavam a ser gentis e, em seguida, viravam e apunhalavam-me pelas costas. Então, eu pergunto a você depois de ouvir sobre uma tragédia como essa. O que há de "orgulho"? Garanto a vocês que eu nunca vou sentir vergonha de quem eu sou, mas eu creio que há uma maneira que impeça uma tragédia de tirar a vida de pessoas de grupos “minoritários” mais vulneráveis.

Continua na próxima semana...

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Tradução e adaptação por este blogue.

WARREN, Derek. “I Am Proud To Be A Gay Autistic Man!” (Part 1). Disponível em http://dwarren57.wordpress.com/2012/07/02/aspergers-is-the-best-form-of-autism-to-have/ (acesso em 29 de novembro de 2014)

Notas do tradutor:

[1] “Wrongplanet” (“Planeta errado”, em inglês) é uma rede social voltada a pessoas autistas, familiares e profissionais. 

[2] Caiden Cowger é um jovem conservador apresentador de rádio, colunista, empresário e empreendedor. 

[3] Nos Estados Unidos da América, criaram-se designações para cada um dos quatro anos do Ensino Médio (High School). São os seguintes: freshman (primeiranista), sophomore (segundanista), junior (terceiranista) e senior (quartanista). Referência: DE PAULA TRANSLATIONS. Informações importantes para pessoas que desejam estudar nos Estados Unidos. Disponível em http://www.brazilyellowpages.com/index.php?pr=Estudar_nos_EUA (acesso em 27 de novembro de 2014).

2 comentários:

  1. Maravilhoso!

    Obrigado por compartilhar aqui em português. Muita gente poderá ler essa linda postagem.

    Beijos,
    Sergio Viula
    www.foradoarmario.net

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    Respostas
    1. Obrigado por comentar Sérgio Viula. Você faz muito por nós LGBTs e pode fazer muito pelos LGBTs que têm necessidades especiais. Um abraço.

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