"Sou orgulhoso de ser um homem autista gay!" (Parte 2)


Por Derek Warren



Descobri um comentário de alguém na minha última postagem. Ele descreveu sua posição sobre o tema conhecido como "orgulho gay".

Orgulho é uma palavra esquisita que se usa às vezes, e que é suficiente para dizer: “não me envergonho, não estou em negação, eu sou o que sou" e é melhor deixar por isso mesmo. Viva como você precisa viver, como você deseja viver, como você espera que as outras pessoas vivessem, se elas andassem nos teus passos. Desejo a você tudo de melhor que o mundo tem a oferecer e espero que não encontre muitas coisas ruins no teu caminho. Fique bem. Viva bem.

A verdade é que eu não acho que nunca vou entender o verdadeiro significado por trás da afirmação: "Sou orgulhoso de ser um homem autista gay!" Depois de ouvir tudo sobre a controvérsia do Chick-fil-A [1], eu muitas vezes me perguntei se há qualquer sentido para estar "orgulhoso" de quem eu sou. Eu acredito que os apoiadores do Chick-fil-A só não gostam da comunidade gay e lésbica, porque a Bíblia diz isso. Os conservadores "amam o pecador, mas abominam o pecado”. Embora o foco desta postagem não seja realmente sobre uma cadeia de fast food norte-americana que não apoia a igualdade no casamento, ainda existem muitas perguntas que passam pela minha mente. 

Por que eu deveria ser "orgulhoso" se ainda há pessoas lá fora que têm a audácia descarada de espalhar o medo, insultar, repreender, bater com armas, torturar e até matar-nos por nenhuma outra razão além de que "decidimos" ser gay? Por que eu deveria orgulhar do fato de que eles usam suas crenças religiosas para justificar isso? Pensava que esse tipo de fanatismo era uma coisa do passado!
Por que eu deveria ser orgulhoso de que as pessoas autistas são forçadas a acreditar em suas dificuldades sociais e acadêmicas estragarão seus sonhos de viver um futuro feliz e produtivo? Ser autista não quer dizer que eu sou um perdedor! 
Por que eu deveria ser "orgulhoso" do fato de que os muitos rótulos jogados em nós são considerados "obrigatórios" para se encaixar-nos na própria "comunidade"? Eu não me importo se as pessoas me chamam de "urso" [2], "twink" [3], "hetero-gay" [4], "bicha" [5] ou uma "fada" [6]. Minha sexualidade não define quem eu sou como pessoa!  

Na primeira parte desta postagem expressei a minha posição sobre a declaração "Sou Orgulhoso De Ser Um Homem Autista Gay!" e eu disse que não sinto vergonha do fato de que eu sou gay, mas eu não sou orgulhoso de ser autista. Eu trouxe essa afirmação nos fóruns do Wrongplanet.net. Uma das respostas que realmente se destacou foi quando alguém afirma que eles não são "orgulhosos" de quem eles são, mas eles não sentem vergonha em ser quem eles são. Afirmaram que não fizeram nada para ter sua sexualidade ou diagnóstico de espectro autista. É uma daquelas coisas que só acontecem quando se está no ventre de minha mãe. Mantenho a minha firme convicção de que eu não preciso provar nada a ninguém. Revelei-me há quatro meses e ainda estou tentando descobrir o lugar que eu tenho neste mundo. Espero sair desta cidade um dia, mas realmente não sei aonde ir.

Tenho certeza que você sabe que eu sou novo para essa coisa toda de "gay". A única coisa que todo/a LGBT solteiro/a assumido/a deve aprender é encontrar seu próprio caminho para lidar com o fato de que nem toda pessoa neste mundo verdadeiramente aceita o fato de que somos diferentes. Quero citar algo de um maravilhoso artigo escrito por John Scott Holman. Ele descreve sua reação às pessoas que, muitas vezes, nos referimos como homofóbicas.

Enquanto estamos no assunto de homo... ãã... sapiens, devo mencionar que também sou veado no sentido popular e cru da palavra – eu sou um homem e gosto de homens. Se isso te deixa desconfortável, garanto a você que eu entendo. Passei toda a minha vida bombardeado por uma agressão diária de imagens da heterossexualidade; uma sugestão constante de minha irrelevância social. Sim, você está na orientação sexual que me deixa desconfortável também.
Apesar do preconceito e da pressão social terem inspirados anos de autoengano, auto aversão e mimetismo heterossexual (inútil, falsificado), já não posso negá-los – eu praticamente pulei para fora do útero [da minha mãe] e fiz poses ao som de Vogue. Posso não ser a maior rainha de todos os tempos por nunca ter comprado um álbum da Judy Garland, mas não há nenhuma dúvida sobre a minha natureza básica – Eu sou uma bicha (homossexual), uma fruta, um veado, um maricas... qualquer que seja o adjetivo lançado do outro lado do bar pelo caipira (pt-PT: saloio) bêbado que logo aprenderá o significado de "magricela forte".

Há uma coisa que imediatamente me veio à mente quando li apenas esses dois parágrafos. Como faço para responder à pergunta que eu tenho certeza que virá de um heterossexual intrometido neurotípico

"Então, Derek, você tem namorada?"

Enquanto alguns podem pensar que esse tipo de pergunta "não é ruim", há um dilema possível que poderia vir acima. Acontece que sei que em vinte e oito estados dos EUA é perfeitamente legal ser demitido por nenhum outro motivo além do fato de que eu sou gay. Pensilvânia é um desses estados. É isso mesmo, ainda há uma política do "Não Pergunte, Não Conte” [7] nos Estados Unidos! Se meus empregadores simplesmente não gostarem do fato de eu ser um homem gay, eles estão perfeitamente dentro dos seus direitos ao me despedir. A política do "Não Pergunte, Não Conte” ainda existe em muitas organizações que se recusam a incluir pessoas gays e lésbicas em suas políticas anti-discriminatórias. Na verdade, há também muitas organizações que proíbem completamente a discussão de temas controversos no trabalho. A Chick-fil-A não pretende discriminar seus trabalhadores gays e lésbicas, desde que eles doem seus lucros a organizações que pretendem prejudicar os direitos dos cidadãos e cidadãs LGBT em todo o país. Então, ainda há uma pergunta que passa pela minha cabeça. Embora existam muitas empresas de grande nome que ativamente não incluem pessoas LGBT (cof cof Boy Scouts of America [8]), há muitas por aí que são verdadeiramente orgulhosas de sua força de trabalho diversificada. A grande questão é algo assim. Ainda é seguro revelar minha orientação sexual aos meus colegas de trabalho? Existem muitos cenários onde a resposta seria um definitivo "sim", e há muitos cenários onde a resposta seria um definitivo "não".

Acredito que uma resposta às perguntas acima varia de acordo com as atitudes de seus colegas de trabalho e os principais valores e políticas das organizações. Existem algumas organizações que proíbem quaisquer discussões sobre tópicos atuais correntes de “grande envergadura". Se for o caso da sua empresa [onde trabalha], eu não recomendaria discutir sua orientação sexual com seus colegas de trabalho. Então, isso significa que não há discussões sobre sua sexualidade, aborto, religião ou a guerra contra o terror. Não importa se a sua posição sobre o tema é muito conservadora ou muito liberal, você não pode falar sobre isso a todo o momento! Muitas vezes me pergunto se as organizações decidem implementar políticas restritivas devido ao fato de os funcionários terem ido longe demais quando se trata de expressar pontos de vista opostos com seus colegas. Afinal de contas, o comportamento hostil e desrespeitoso perturba o ambiente de trabalho. Ele dá à organização uma má reputação, e a perturbação do ambiente de trabalho tem o potencial para criar a violência.

A circunstância mais importante que determina se é ou não é seguro revelar a alguém sua "saída do armário" no emprego é, naturalmente, a atitude de seus colegas de trabalho. O indivíduo deve primeiro usar o seu próprio julgamento para ver se a hora e o local são apropriados, e eles devem perceber que você não pode prever sempre como uma pessoa vai reagir a tal revelação. A única maneira de superar esse medo é começar por estabelecer uma relação amigável com os colegas de trabalho que parecem ter a mente aberta e respeitosa com as diferenças dos outros. Encontre algum tempo para conversar com eles durante a pausa para o almoço ou fora do trabalho. Comece com uma observação simples de abertura. "Se você não se importa, eu gostaria de te perguntar algo". Em seguida, pergunte sobre seus pontos de vista quando se trata da questão dos direitos dos homossexuais. Se eles começam a citar a Bíblia e a expressar suas crenças de que os gays estão destinados ao inferno, então eu obviamente não vou desperdiçar meu tempo com eles. As pessoas que estão dispostas a aceitar-me por quem eu sou são as únicas que eu sempre vou considerar como verdadeiras amigas!

"Sair do armário" me deu uma enorme sensação de alívio, mas eu ainda estou a experimentar uma grande quantidade de ansiedade. Essa ansiedade é principalmente sobre o que está à minha frente. Estou a tentar descobrir as causas profundas desta ansiedade. Eu sei que eu tenho que chegar à raiz do problema e descobrir maneiras de reduzir os sentimentos de dúvida e medo. Então, eu vim com algumas questões em aberto que eu não sei a resposta. Jogar nenhum papel social tem sempre me preparado para algumas das coisas que eu ainda tenho que experimentar na vida. Quais são essas questões? Elas são sobre as muitas coisas que estão a me incomodar enquanto um homem de vinte anos de idade que é gay e que é diagnosticado como portador do Transtorno do Espectro Autista (TEA). Estas coisas contribuem para a ansiedade que passa pela minha mente todos os dias da minha vida. A única maneira de lidar com elas é ponderar e descobrir como superá-las. Então, cá estão as coisas que eu criei. 

Como devo responder ao fanatismo anti-gay que é especificamente direcionado a mim? As outras pessoas poderiam me orientar a responder dessa forma?

Como faço para responder às pessoas LGBT que direcionam sua intolerância para com o meu autismo e vice-versa?

Quais tipos de características são essenciais para um futuro companheiro? Como essas características podem determinar a felicidade no futuro?

Como posso dizer a uma pessoa que os outros estão fazendo-me sentir oprimido ou frustrado? Por que é tão difícil para que eu explique minhas emoções com alguém que não entende como o autismo me afeta?

Como devo responder à representação dos meios de comunicação das pessoas igualmente gays e autistas?

Tenho certeza que você pode dizer que eu tenho muito que pensar. Se eu quero verdadeiramente sentir-me como sou "Orgulhoso De Ser Um Homem Autista Gay", então eu tenho que fazer o que for necessário para descobrir as respostas a essas perguntas difíceis que estão a prejudicar minha confiança.

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Tradução e adaptação por este blogue.

WARREN, Derek. “I Am Proud To Be A Gay Autistic Man!” (Part 2). Disponível em http://dwarren57.wordpress.com/2012/10/20/i-am-proud-to-be-a-gay-autistic-man-part-2/ (acesso em 7 de dezembro de 2014)

Notas do tradutor:

[1] Controvérsia que envolveu a rede de fast-food Chick-fil-A nos EUA devido aos comentários públicos feitos por um dos proprietários da rede, Dan Cathy, sobre sua oposição ao casamento entre pessoas do mesmo sexo.

[2] Urso (em inglês “bear”) é um homem homossexual que realça e celebra as suas características sexuais secundárias como barba e pelo corporal.

[3] Twink (literalmente uma espécie de bolinho amanteigado) é um termo que designa homens jovens (normalmente entre 18 e 24 anos) ou com aspecto jovem (normalmente poucos pelos etc).

[4] Hetero-gay (em inglês "gay straight") é um homem homossexual com todos os atributos de um homem heterossexual, como beber cerveja e assistir a esportes.

[5] Bicha é um homem gay extravagante, com roupas e/ou comportamentos associados ao sexo feminino. Em português europeu é mais corrente usar os termos “abichanado”, “larilas” e “maricas” (são considerados ofensivos, contudo).

[6] Fada (em inglês “fairy”) é um homem que age de forma um pouco afeminada ou afetada, seja ele homossexual ou não.

[7] Em inglês Don't ask, don't tell. O termo refere-se a uma política de restrição homossexuais ou bissexuais nas Forças Armadas e no serviço militar.

[8] O Boy Scouts of America é uma das maiores organizações de jovens escoteiros dos Estados Unidos.

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