Homossexualidade e deficiência

Créditos: Disability OnLine
Por Federico Morales D.

Comecemos por... O que é sexualidade? Como entendê-la? A sexualidade é uma parte fundamental do ser humano com base no sexo; inclui gênero, erotismo, vínculo afetivo assim como reprodução; influenciam tanto fatores biológicos quanto psicológicos, sociais, econômicos, culturais e até religiosos, sendo a diversidade sexual tão ampla como os seres humanos que existem no planeta, e é esta mesma diversidade a variável que existe entre os seres humanos, incluindo sua diversidade biológica (seja homem, mulher ou intersexual), a decisão de viver só ou num relacionamento, casar-se ou viver uma relação aberta, ser travesti ou a forma em que decida sentir prazer, assim como o desejo de ter filhos ou não. 

Discriminação: deficiência e homossexualidade

Falar de discriminação e sexualidade não deveria ir de encontro; unir numa só equação homossexualidade, deficiência e discriminação, me parece um tema urgente a ser abordado, sendo que parece impossível pensar que ser uma pessoa com deficiência e ser homossexual, parece-nos de impossível existência.

Presume-se que já é suficientemente ruim ter uma deficiência, ainda mais ser homossexual... Seria o cúmulo! E, no entanto, apenas no continente americano, existem mais de 50 mil surdos homossexuais infectados pelo vírus HIV. Então, sendo uma minoria dentro de uma minoria, mesmo dentro de outra minoria.

Assim, é evidente que as pessoas são influenciadas no que diz respeito aos valores e comportamentos esperados delas; se apaixonam, sentem prazer, têm direitos reprodutivos, portanto têm uma sexualidade, a possuir um estilo único de ser homem ou mulher, a viver como solteiro ou numa união estável, ter filhos ou não, e sendo homossexuais, bissexuais ou heterossexuais.

No entanto, a sexualidade das PCD (Pessoas Com Deficiência) não é levada em conta, principalmente, pela falsa crença de que elas não têm sexualidade, ou se lhes fala sobre isso, podem tornar-se sujeitos perigosos haja visto que seus desejos seriam exacerbados, sendo isso um caso de discriminação por causa dos grupos de deficiência que não atendem homossexuais com deficiência e muito menos os grupos LGBT, já que a homossexualidade na deficiência permanece invisível.

O não cumprimento dos direitos sexuais e reprodutivos deste setor é agravado pela discriminação que se vive como pessoa com deficiência, onde os obstáculos são maiores para ter acesso a uma correta orientação sexual. Considerando-se, ainda, que o estigma que a sociedade impõe sobre as PCD, é geralmente internalizado pela própria pessoa que muitas vezes se auto desvaloriza e se auto destrói, a acreditar que não é digna de ser amada, mantendo relações autodestrutivas ou simplesmente não consideram o próprio cuidado como algo prioritário, a colocar-se em risco com gravidezes não planejadas, DSTs (doenças sexualmente transmissíveis) assim como violência sexual.

Consequências:

Faulkner, Fergusson, Garofalo e Remafedi provaram que ser homossexual e não contar com o apoio das pessoas à sua volta leva a maiores taxas de depressão, culpa, pensamentos suicidas, problemas mentais, abuso de substâncias e de álcool, comportamentos sexuais de risco, prostituição como forma de sobrevivência, rejeição familiar, abandono, isolamento emocional, solidão, evasão escolar, doenças sexualmente transmissíveis e maior probabilidade de ser vítima de abuso físico e verbal.

Mas, pelo menos, os meninos e meninas homossexuais podem encontrar grupos de apoio. Em contrapartida, a realidade de homens e mulheres homossexuais com deficiência é mais difícil porque, como mencionado, deles se pensa que são sujeitos carentes de desejos sexuais e com menos necessidade de educação sexual, causando:
  • menor consciência da existência de DSTs e HIV.
  • serviços de saúde inacessíveis.
  • profissionais leigos e desinteressados.
  • mães e pai desinteressados na sexualidade de seus filhos.
  • maior dificuldade de assumir-se como homossexual ("sair do armário").

Sair do armário para os/as homossexuais com deficiência é mais difícil devido à dependência física e emocional, uma vez que existe um maior isolamento e não têm com quem falar, com medo de perder o apoio e carinho de seus cuidadores e familiares, além de sentir mais medo de perder os serviços que recebem, se os prestadores de serviços se inteirarem [de sua sexualidade]. Homossexuais com deficiência não têm espaços seguros para expressar sua orientação, têm maior dificuldade em alcançar e manter relacionamentos e, por conseguinte, relações estáveis, não há acessibilidade nos lugares de encontro, por vezes, seus intérpretes [no caso das pessoas surdas e/ou mudas] e assistentes pessoais são homofóbicos, portanto, não têm o apoio para desenvolver relacionamentos, entre muitas outras questões.

Por isso, é necessário tomar medidas para que se cumpra o direito à não-discriminação, como a promoção de uma adequada educação sexual, dirigida tanto para a pessoa com deficiência quanto para a família, trabalhar contra a discriminação de pessoas com deficiência que são lésbicas, gays, bissexuais travestis, transexuais ou com qualquer uma dessas vivências, promover e defender os direitos humanos, sexuais e reprodutivos, facilitar o acesso da pessoa com deficiência e seus familiares aos centros de apoio, promover o [seu] reconhecimento como como seres valiosos e detectar e prevenir a violência sexual e a violência familiar em relação às pessoas com deficiência.

Tradução e adaptação por este blogue.

MORALES D., Federico. Homosexualidad y Discapacidad. Revista Accesos Vol. 3, nº 13. Disponível em http://www.revistaccesos.com/blog/educacion/homosexualidad-y-discapacidad/ (acesso em 17 de fevereiro de 2015)

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